Localização
R. XV de Novembro, 110 - Centro, Pelotas - RS, BrasilAutores
Arthur Lins, Felipe Finger e Vitor SadowskiColaborador
Thiago SchuchÁrea do terreno
796,5m²Área construída
1.964,14 m²Área
1964.0 m2Ano do projeto
2015Fotografias
Apresentamos o projeto premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional promovido pela Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pelotas (ADUFPel) para a elaboração de Estudos Preliminares de Arquitetura para a nova sede da Instituição. Veja a seguir algumas imagens e a descrição dos arquitetos.
Dos arquitetos: A concepção da nova Sede Administrativa da ADUFPel SSind do ANDES SN é uma oportunidade de valorizar a paisagem histórica do centro de Pelotas enquanto expressão de cultura e reconhecimento do passado pouco distante. É a chance de alavancar alternativas de ordenação territorial através da integração de novos equipamentos com o patrimônio, revigorando a identidade local, promovendo cidadania e o direito à cidade.
A produção do espaço urbano de Pelotas, em um traçado inicial que data de 1812 - a partir da tradicional malha quadricular, determinou lotes profundos e estreitos, ruas mais largas no sentido norte-sul, e mais estreitas no sentido leste-oeste. O historicismo eclético caracterizou o conjunto arquitetônico, e as praças centrais foram elementos de fundamental articulação do tecido urbano, constituindo espaços públicos com forte ligação visual entre si. A Praça da República foi desde cedo o principal local de trocas sociais e culturais, ao seu redor arquiteturas institucionais e imponentes casarões. Tomando o eixo norte-sul, em direção à Catedral pela então Rua São Miguel, cruzava-se a Praça da Matriz até chegar a Praça Júlio de Castilhos, nos limites do antigo traçado da cidade.
O tempo passou, a cidade mudou, mas permaneceram as praças e os eixos visuais: ao norte a Praça Júlio de Castilhos denomina-se Dom Antônio Zattera; a Praça da Matriz, José Bonifácio; e a Praça da República é hoje a Praça Coronel Pedro Osório. A Rua São Miguel é renomeada para Rua XV de Novembro, com evidente vocação comercial e caráter de centralidade urbana.
É no extremo oposto deste eixo, ao sul da Rua XV de Novembro, que está localizado o terreno da ADUFPel SSind do ANDES SN, em área com evidente ausência de urbanidade e espaços públicos. Próximo ao local uma escola, um dos núcleos do Instituto Rio Grandense do Arroz, e um singelo edifício modernista. No campo visual a histórica Ponte Ferroviária sobre o Canal São Gonçalo, e as Pontes Alberto Pasqualini e Léo Guedes.
A sede da ADUFPel, enquanto edifício institucional, de interesse público, tem papel protagonista na articulação da área com o centro histórico, impulsionando o desenvolvimento do entorno mediato e imediato. O sindicato, representante legítimo dos interesses dos docentes federais, batalha pela permanente defesa do caráter público da educação. Sua sede, portanto, deve ser um espaço de interação e congregação dos docentes, que viabilize a organização e defesa dos interesses coletivos da classe trabalhadora, e com as portas sempre abertas para a comunidade acadêmica e a sociedade.
A rua deve adentrar ao edifício. O edifício deve se abrir para a rua. Deve ser um espaço de trocas sociais e culturais, um espaço coletivo, um espaço democrático - uma praça. O edifício protagoniza encontros, lutas, debates, exposições, assembleias e reuniões. A ADUFPEL será um espaço plural - dos docentes, dos acadêmicos, da universidade, da CIDADE.
IMPLANTAÇÃO
Liberar o terreno, permear os acessos, conectar os espaços. edificar a continuidade da rua. A praça interior, que organiza os acessos e acomoda o programa de necessidades ao seu redor, é a principal ligação entre público, semi-público e privado. O auditório, local de convergência e construção do interesse coletivo, consolida a importância da ADUFPEL enquanto entidade de defesa da classe trabalhadora. é um espaço transversal, que se abre para a rua e para a própria edificação. Junto com a praça, o auditório fortalece o diálogo com o entorno urbano, permitindo que os professores expandam suas lutas para além dos muros da instituição. O pavimento térreo conforma-se como um espaço ativo, com relação direta entre os acessos e espaços de encontro. Para conformar uma praça ampla e arejada, não utilizou-se a taxa de ocupação máxima permitida pelo plano diretor.
Optou-se por distribuir o programa em três pavimentos e Subsolo. O corpo principal do edifício é implantado no sentido longitudinal do terreno, com a fachada voltada para o norte. O auditório é estrategicamente posicionado de frente a via, na fachada principal do edifício. Os fundos do palco se abrem para a Rua XV de Novembro, que se torna uma extensão do auditório e ponto de partida de manifestações em direção à cidade. A laje da praça é elevada em relação ao nível da rua, reduzindo o volume de escavação do subsolo, e viabilizando a organização do auditório em arquibancada. uma suave rampa conecta a praça à rua. O volume dos pavimentos superiores é conformado para liberar terraços, sacada e teto jardim - espaços de transição entre exterior e interior. A composição formal resulta em uma combinação geométrica simples, que articula os espaços nas diferentes escalas de interação, in tegrando o edifício à cidade.
ESTRATÉGIAS
A sustentabilidade como elemento do desenho arquitetônico, onde as estratégias utilizadas reforçam o papel da edificação enquanto participante ativo das questões coletivas. Novas possibilidades de ocupação urbana em áreas degradadas são promovidas através de estímulo a urbanidade e ao uso coletivo dos espaços.
A coordenação modular dos componentes da edificação possibilita maior economia de recursos, eficiência no uso dos materiais e redução de tempo na obra. A escolha de elementos industriais pré fabricados permite o melhor uso de cada material para determinada função, além de uma redução significativa de resíduos no canteiro de obras. A edificação colabora na gestão das águas, através das superfícies retentoras permanentes de água ou coletoras, possibilitando seu reuso para jardinagem, horta e limpeza. O subsolo, por sua vez, pode funcionar como bacia de detenção em casos extremos de precipitação que podem atingir a região, tendo papel de absorver as quantidades excessivas de água juntamente com as coberturas, reduzindo o impacto no sistema público de drenagem urbana. Posteriormente, a água retida passa para o solo de forma gradativa através de dutos específicos em sistema capilar.A cobertura superior possui inclinação e orientação adequadas para utilização de tecnologias de aproveitamento solar, tanto de geração de energia quanto de aquecimento de água.
A forma que a edificação se relaciona com a rua e a cidade possibilita novos cenários urbanos, com espaços de apropriação e dinâmica de pessoas. A edificação, como extensão da rua, espaço das trocas sociais, passa a ser um agente irradiador de urbanidade, e incentiva usos diversos.
A disposição do bloco implantado potencializa o aproveitamento do sol enquanto energia térmica, iluminação e ventilação naturais. O recuo da edificação na fachada norte possibilita este aproveitamento, a partir das esquadrias que possuem beirais adequados para controle solar no verão e permeabilidade no inverno, bem como aberturas dimensionadas para maior aproveitamento da ventilação natural. Nas fachadas leste e oeste, brises verticais funcionam como controle da incidência direta indesejada, reduzindo o desconforto visual. O afastamento dos fundos da edificação mantém-se totalmente permeável, como área de horta e cultivo de espécies vegetais para os usuários.
A maior fachada voltada para norte tem função imprescindível nas condições de conforto da edificação: no verão, a fachada serve para estimular a ventilação natural, que acontece através da diferença de pressão nas alturas das aberturas induzindo por convecção a saída do ar no ponto mais alto da fachada. Com o controle dessa saída através de esquadria, no inverno, o sol incide sobre o ambiente interno contribuindo para o aquecimento. Os fechamentos móveis permitem que o controle da incidência seja feito pelo usuário, e grelhas entre os pavimentos possibilitam a passagem de ar ao longo de toda fachada.